terça-feira, 26 de abril de 2011

Sobre Que venham os abutres

A música que venham os abutres foi uma das mais espontâneas já compostas por mim. Na verdade, ela foi praticamente feita toda de uma só vez (letra e música vindo juntas, como se ela estivesse literalmente, baixando em mim - certa vez Keith Richards disse que se você tiver que fazer uma música, faça, se não outra pessoa a faz ). Foi uma música composta num momento de raiva e revolta. Trata-se de um desbafo. Ao mesmo tempo marca a primeira volta do Arkhan deopois de um período de inatividades. Vamos à história:
Na época, por volta de 2007 o Arkhan havia praticamente acabado. Eu estava com um novo velho projeto chamado Mandalla junto com Ricardo (voz), André (bateria) e Felipe piruka (baixo). Era um projeto de música pop que nada tinha a ver com a temática do Arkhan. Ainda não haviamos estreado em palco e não era por falta de convites para shows. Varios shows haviam sido desmarcados pelos mais diversos e absurdos motivos ( chuva, casa de show que havia fechado, morte de parente de alguém que havia contratado e naquele dia não haveria movimento no local, etc...) Era uma zica mesmo. Cheirava a mal olhado ou macumba (embora eu não acredite nisso).
Então fomos convidados para um mega show. Num clube grande da cidade, evento de inauguração de uma rádio nova (que não vou citar nome para não fazer propaganda) e que iria contar com várias bandas e entre elas nós, o Mandalla. Chegamos cedo ao local e ficou combinado que seriamos a sexta banda a tocar e ainda teriam mais 3 depois de nós. Tudo perfeito. Só que a quinta banda tocou e a sétima subiu ao palco antes de nós e eu indignado fui procurar a organização. o organizador ( um locutor da cidade ), me disse que estava certo e que na verdade nós seríamos a última banda. Pedi pra ver o papel em que estava a ordem das bandas que iriam tocar. Com muito custo ele me mostrou. Realmente lá, estavamos como última banda, porém no local onde estava a sexta banda estava o nosso nome, riscado e na frente dele escrito o nome da banda que estava no palco. Ou seja, trocaram por conta própria o que fora combinado em comum acordo no início do show e o pior, não nos perguntaram se podiam fazer isso. Fiquei indignado e sentei desolado na subida para o palco. Na penúltima banda, a equipe que fazia a sonorização começou a recolher o material e eu, mais uma vez indignado fui saber porque. O responsável pelo som me disse que aquela que estava tocando era a última banda e que não havia sido informado de outra, portanto, o som seria desligado tão logo a banda acabasse de tocar. Resultado: não tocamos. Minha revolta foi enorme. Me reuni com o resto da banda e disse que estava cansado de tentar aquela história de música pop. Música pop era muito boazinha e nesse nosso mundo os bonzinhos são pisados e humilhados. Disse que minha vontade era voltar a fazer rock pesado aos moldes do que eu fazia no Arkhan. Pra minha surpresa, todos toparam de imediato e foi sugerido que usássemos o nome Arkhan. E assim morria (pra sempre) o Mandalla e renascia o Arkhan.
Fui pra casa e a revolta ainda tomava conta do meu ser. Sentia que não conseguiria dormir. Era a música querendo sair de mim e tomar vida. Eu pensava em todos os que participaram do evento como abutres, aves de rapina que comeram os restos do Mandalla com a banda ainda viva. E sem contar os invejosos de outras bandas que estavam lá (isso infelizmente existe em nossa cidade) e se riram de nossa situação. Na minha cabeça eram todos abutres, carniceiros.
Peguei caneta e papel e comecei a escrever. Não tinha nem instrumento na mão e nem precisaria. Estava vindo tudo de uma vez na minha cabeça. Letra e melodia ao mesmo tempo. Ao terminar de escrever, me sentia cansado, porém extremamente aliviado. Naquela noite consegui dormir em paz , mesmo depois de tanta decepção.
No semana seguinte, já como Arkhan, estavamos tocando a música e colocamos nela todo nosso vigor e sinceridade. Menos de um mês depois estavamos subindo no palco,

como Arkhan e abrindo o show com "Que venham os Abutres". Dentro daquele mesmo mês vizemos ainda mais 4 apresentações, todas de bastante sucesso e aceitação. Parecia que o mal olhado havia sido tirado. Aquela formação ainda durou um certo tempo e tocou bastante, até por fim acabar e surgir a banda D'nastia que foi o embrião para essa nova formação do Arkhan.
Então, que venham os abutres, é um tapa na cara dos invejosos, daqueles que torcem contra, que querem comer sua carne e seu espírito. Beber seu sangue e tripudiar sobre você. É um desafio também. Que venham os abutres. Todos eles. Nós não vamos fechar os olhos, pois não temos medo. A sua inveja nos fortalece e se torna couraça na qual suas afiadas garras e pontiagudos bicos não conseguem entrar.
Por isso vamos ficar aqui e enfrentar.


Mauro A. Souza

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